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sábado, 27 de novembro de 2021

O “Quadragesimo anno” Posição de África no Pós pandemia da Covid-19

Neusa e Silva - autor


As crises são por excelência a maior mola impulsionadora do desenvolvimento de qualquer economia ... e a Covid-19 será para África o grande motor da revolução industrial no continente"

Por Neusa e Silva

No dia em que assinalo o “Quadragesimo anno” (13 de Agosto) fiz uma reflexão atendendo um convite do meu amigo Pedro Filipe, para fazer uma análise da pandemia provocada pela Covid-19....tendo como inspiração a carta que Papa Pio XI escreveu a 15 de Maio de 1931 em resposta à Grande Depressão de 1929.

Caro leitor, é incrível o que se aprende olhando para trás. Assim sendo permita-me recuar até ao ano de 1929!

Para quem não sabe a Grande Depressão foi considerada como o pior e mais longo período de recessão econômica mundial do século XX.

Incursão ao passado. O que terá causado a crise de 1929?

O fim da Primeira Guerra Mundial provocou uma grande recessão nas economias dos países europeus, o que terá abalado também a economia mundial. Entretanto no final da segunda guerra mundial a economia europeia restabeleceu-se e passou a importar cada vez menos dos Estados Unidos. Com a retração do consumo na Europa de produtos importados da América , as indústrias norte-americanas deixaram de ter um mercado para escoar a sua superprodução, o que terá gerado uma grave queda dos lucros, seguida de uma retração económica e consequente paralisação do comércio culminando com a quebra da bolsa.

Ao perceber a diminuição do consumo, o setor produtivo passou a produzir menos, consequentemente as pessoas foram parar ao desemprego, as ações nos mercados financeiros registaram uma desvalorização acentuada gerando assim o "crash" ou o "crack" da Bolsa de Nova York ficando assim o dia 24 de outubro de 1929 conhecido como a "Quinta-feira Negra".

Incursão ao futuro. O que se espera de África depois da pandemia?

Caro leitor, se aplicar o cenário acima descrito que ocorreu depois da segunda guerra mundial, ao atual ou melhor ainda, ao fim da pandemia, poderá perceber que se adivinha o mesmo cenário, onde mudam apenas os atores. 
O continente africano assume aqui o papel da Europa, acelerando o seu processo de industrialização e integração regional com o lançamento da ZLCCA, e a Europa, Ásia e as Américas poderão ver-se a braços com uma grande crise muito brevemente, caso África decida mudar a narrativa sobre a exploração e transformação da sua riqueza natural. Sob pena de afetar as grandes concessões de exploração atualmente monopolizadas por grandes grupos Europeus, Chineses e Americanos.

Já é notório o posicionamento de África, em relação a liderança dos processo de pacificação das suas regiões em conflito com bastante sucesso.

Temos o caso de Angola na questão a resolução dos conflitos dos grandes lagos e entre o Ruanda e o Uganda, e ainda a liderança do Ruanda ao fazer história com a sua força militar em Moçambique e ainda a força conjunta da SADC. Portanto, ou muito me engano...ou poderemos assistir nos próximos anos um cenário de rápida prosperidade no continente, mas com certeza o anúncio de mais um "crash" no equilíbrio do atual sistema económico mundial.

A carta que Papa Pio XI escreveu a 15 de Maio de 1931 por altura do Quadragésimo anno, (aniversário) da encíclica de Leão XIII, em resposta à Grande Depressão de 1929 lança uma luz sobre a nova ordem a ser observada pelas classes sociais e governos. Abaixo leia um breve extrato:

“Quanto à autoridade civil, Leão XIII, ultrapassando com audácia os confins impostos pelo liberalismo, ensina impertérrito, que ela não deve limitar-se a tutelar os direitos e a ordem pública, mas antes fazer o possível, para que as leis e instituições sejam tais... que da própria organização do Estado dimane espontaneamente a prosperidade da nação e dos indivíduos

Uma orientação escrita em 1929, que se mantém atual. E, é a carta perfeita para qualquer governante, em especial os africanos. O texto aborda questões a sobre a Justiça Social, o capitalismo e o Livre Mercado.

Sobre o livre mercado o Papa “considera benéfico, mas não diz que não se pode deixá-lo governar o mundo e o mundo não deve ser governado apenas pela economia, como mostra a dura experiência dos trabalhadores, nem tampouco pode converter-se numa ditadura econômica que se rege por si mesma ou como um fim em si mesma” e aponta alguns princípios básicos e propostas para que assim não aconteça. São elas: Reforma ajustada da economia à razão iluminada pela caridade cristã; Colaboração mútua e harmoniosa de todas as atividades humanas na sociedade; o enriquecimento é lícito sempre que não menospreze os direitos alheios e “Lei da temperança cristã" contra os apegos desordenados, que são uma afronta aos pobres, e que se baseia em “buscar primeiro o reino de Deus e sua justiça".

Ou seja, voltando a nossa citação inicial, “As crises são por excelência a maior mola impulsionadora do desenvolvimento de qualquer economia”... e a Covid-19 será para África, o grande motor da revolução industrial no continente, mas só se os dirigentes africanos olharem para a história da constituição das grandes economias, abstendo-se de cometer os mesmos erros, começando por retificar a narrativa sobre a importância e papel que o povo africano tem no processo de desenvolvimento do continente olhando para eles como parte da solução e nunca como um problema a ser resolvido.

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